FESTIVAL DE CINEMA LUSO-BRASILEIRO: RODRIGO AREIAS CONVIDA-NOS PARA UMA VIAGEM

04/12/2015
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Rodrigo Areias estreia o seu filme Ornamento e Crime no Festival de Cinema Luso-Brasileiro. O evento que começa a 6 de dezembro em Santa Maria da Feira, tem uma forte ligação com autor e com esta longa-metragem.

O realizador português falou-nos do seu novo filme e do que o une a Guimarães, ao Brasil e a Santa Maria da Feira.

 

Um festival que cria relações duradouras



São muitos os aspetos que ligam Rodrigo Areias ao festival que se realiza em Santa Maria da Feira. Uma "relação longa”, como ele próprio diz, que tem gerado frutos para o cinema dos dois lados do Atlântico: "acho que o festival tem várias coisas muito importantes. Eu tenho uma relação longa com este festival, é um festival pelo qual tenho grande apreço”. Para o cineasta, há um conjunto de caraterísticas que tornam este festival especial e capaz de criar "uma relação muito sui generis entre o cinema português e brasileiro”. O lugar onde se realiza é um dos fatores importantes, "por ser numa cidade pequena que obriga toda a gente a estar em contacto”. O contacto promovido faz do evento um local onde "as pessoas se conhecem, as pessoas discutem, as pessoas fazem montes de projetos juntos a partir dali”.

Essa conversação acaba por construir uma "ponte muito importante entre o cinema português e o cinema brasileiro” e o filme que está prestes a apresentar em Portugal, depois de uma ante-estreia que decorreu em São Paulo, é um exemplo disso. A história começa logo pela atriz principal, a brasileira Djin Sganzerla: "eu conheci a Djin (Sganzerla) no festival Luso-brasileiro já há alguns anos atrás, há uns 10 ou 8 anos. O montador do filme, um cineasta brasileiro chamado Eduardo Nunes, eu conheço-o para aí há uns 15 anos, lá do festival, e tenho coproduzido filmes com ele”. No fundo, "há uma relação entre Portugal e Brasil que acontece mais neste festival do que em qualquer outro grande festival do mundo. E isso é muito interessante”.

Ornamento & Crime, um filme sobre lugares



A ideia deste filme está intimamente ligada à última obra do autor, a longa metragem 1960, um filme baseado no diário de bordo da viagem do arquiteto português Fernando Távora à volta do mundo: "Na altura, quando me propuseram fazer esse filme, eu imaginei fazer um filme que não fosse um filme sobe arquitetura, mas que partisse dela. A minha ideia foi fazer um filme noir baseado nesses espaços”. Rodrigo Areias concretiza agora essa ideia, com uma obra que tem o mesmo título de um dos mais importantes livros da história da arquitetura. "É um filme todo rodado em Guimarães, que no fundo é a cidade do Távora. No fundo, não deixa de ser um filme policial, com detetives, femmes fatale e crimes… Mas com essa base estética a partir da arquitetura”. 

Esta forma de fazer cinema é muito própria do cineasta, que não tem receio de fazer filmes em que o enredo não é o prato principal e deixa o convite ao público: "Eu acho que não tenho histórias para contar a ninguém, nem necessidade de entreter ninguém. É mais um convite para as pessoas virem numa viagem comigo, através de um filme. Quem quiser sair do comboio tem todo o direito”.

A estética "noir" e a música que transforma o cinema



A parte visual do filme ganha grande destaque, também pela utilização da estética dos filmes noir: "Tem a ver com essa lógica de partir de um conceito visual e não narrativo”. Outra presença importante na longa-metragem é a música, criada por The Legendary Tigerman (Paulo Furtado) e Rita Redshoes. Não é a primeira vez que os dois músicos trabalham com Rodrigo Areias:  "Na verdade, é a segunda banda sonora que eles fazem juntos para um filme meu. Para o (Paulo) Furtado é a 5ª banda sonora comigo, mas o Furtado e a Rita já tinham feito a "Estrada de Palha”. 

A parceria acabou por ter um grande sucesso, refletido nos prémios ganhos pelos músicos e também nos cine-concertos que encheram por todo o país e até lá fora. Parece que este conceito, que junta música ao vivo à exibição do filme, é para manter com Ornamento e Crime: "A ideia é os cine-concertos acontecerem mais perto da estreia comercial do filme, que está prevista para Maio. Da última vez fizemos em Portugal cerca de 13 concertos e mais 3 ou 4 fora do país. Desta vez, planeamos fazer menos, dependendo da disponibilidade de ambos, pois estão a gravar discos novos e têm os seus próprios compromissos e agendas. Mas a ideia é fazermos pelo menos uns quatro em Portugal, em Guimarães, Porto, Coimbra e Lisboa”. 

Para Rodrigo Areias, esta é uma forma de dar mais ao espetador que assim consegue ter "espetáculos irrepetíveis, que é um bocadinho aquilo que o cinema não consegue proporcionar”. A resposta do público, foi também positiva: "Os cine-concertos estavam de tal forma esgotados que tivemos mais espetadores em cine-concertos do que em sala comercial”. Um sucesso para repetir.

O Filme e o Autor




Ornamento e Crime será exibido no próximo dia 11 de dezembro no auditório da Biblioteca Municipal da Feira. O filme integra a competição de longas-metragens do Festival de Cinema Luso Brasileiro que se realiza de 6 a 13 de dezembro de 2015 em Santa Maria da Feira.


Rodrigo Areias licenciou-se em Som e Imagem no Porto, especializou-se em realização na Tisch School of Arts na Universidade de Nova Iorque e integrou programa de produção Eurodoc. Ao longo da sua carreira, desenvolveu trabalhos variados, passando pelo cinema de autor em ficção e documentário, trabalhos em domínios de video-arte e vídeo clips (The Legendary Tiger Man, Wray Gunn, Mão Morta, Sean Riley, D3o, etc.). 

Começou a sua carreira como produtor em 2001, tendo produzido e co-produzido mais de 70 curtas, longas, vídeos e documentários. Produziu autores de renome como Edgar Pêra, João Canijo e F. J. Ossang, bem como jovens talentos como André Gil Mata, João Rodrigues e Jorge Quintela. Trabalhou também com produções de outros países, do Brasil à Finlândia, passando por Reino Unido, França, e Alemanha.

Como realizador, criou vários filmes. Esteve representado em mais de 50 festivais internacionais com a longa-metragem Tebas e com a curta-metragem Corrente, filmes que recolheram 10 galardões. A sua segunda longa-metragem estreou em Competição Oficial no Festival Internacional de Karlovy Vary e foi galardoada com uma Mensão Especial. 

Rodrigo Areias foi também responsável pela produção de cinema de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura.

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