FESTIVAL DE CINEMA LUSO-BRASILEIRO: RODRIGO AREIAS CONVIDA-NOS PARA UMA VIAGEM
O realizador português falou-nos do seu novo filme e do que o une a Guimarães, ao Brasil e a Santa Maria da Feira.
O realizador português falou-nos do seu novo filme e do que o une a Guimarães, ao Brasil e a Santa Maria da Feira.
São muitos os aspetos
que ligam Rodrigo Areias ao festival que se realiza em Santa Maria da Feira.
Uma "relação longa”, como ele próprio diz, que tem gerado frutos para o cinema
dos dois lados do Atlântico: "acho que o festival tem várias coisas muito importantes.
Eu tenho uma relação longa com este festival, é um festival pelo qual tenho
grande apreço”. Para o cineasta, há um conjunto de caraterísticas que tornam
este festival especial e capaz de criar "uma relação muito sui generis
entre o cinema português e brasileiro”. O lugar onde se realiza é um dos
fatores importantes, "por ser numa cidade pequena que obriga toda a gente a
estar em contacto”. O contacto promovido faz do evento um local onde "as
pessoas se conhecem, as pessoas discutem, as pessoas fazem montes de projetos
juntos a partir dali”.
Essa conversação acaba por construir uma "ponte muito importante entre o cinema português e o cinema brasileiro” e o filme que está prestes a apresentar em Portugal, depois de uma ante-estreia que decorreu em São Paulo, é um exemplo disso. A história começa logo pela atriz principal, a brasileira Djin Sganzerla: "eu conheci a Djin (Sganzerla) no festival Luso-brasileiro já há alguns anos atrás, há uns 10 ou 8 anos. O montador do filme, um cineasta brasileiro chamado Eduardo Nunes, eu conheço-o para aí há uns 15 anos, lá do festival, e tenho coproduzido filmes com ele”. No fundo, "há uma relação entre Portugal e Brasil que acontece mais neste festival do que em qualquer outro grande festival do mundo. E isso é muito interessante”.
A ideia deste filme
está intimamente ligada à última obra do autor, a longa metragem 1960, um
filme baseado no diário de bordo da viagem do arquiteto português Fernando
Távora à volta do mundo: "Na altura, quando me propuseram fazer esse filme, eu
imaginei fazer um filme que não fosse um filme sobe arquitetura, mas que
partisse dela. A minha ideia foi fazer um filme noir baseado nesses
espaços”. Rodrigo Areias concretiza agora essa ideia, com uma obra que tem o
mesmo título de um dos mais importantes livros da história da arquitetura. "É
um filme todo rodado em Guimarães, que no fundo é a cidade do Távora. No fundo,
não deixa de ser um filme policial, com detetives, femmes fatale e
crimes… Mas com essa base estética a partir da arquitetura”.
Esta forma de
fazer cinema é muito própria do cineasta, que não tem receio de fazer filmes em
que o enredo não é o prato principal e deixa o convite ao público: "Eu acho que
não tenho histórias para contar a ninguém, nem necessidade de entreter ninguém.
É mais um convite para as pessoas virem numa viagem comigo, através de um
filme. Quem quiser sair do comboio tem todo o direito”.
A parte visual do filme
ganha grande destaque, também pela utilização da estética dos filmes noir:
"Tem a ver com essa lógica de partir de um conceito visual e não narrativo”.
Outra presença importante na longa-metragem é a música, criada por The
Legendary Tigerman (Paulo Furtado) e Rita Redshoes. Não é a primeira vez que os
dois músicos trabalham com Rodrigo Areias: "Na verdade, é a segunda banda
sonora que eles fazem juntos para um filme meu. Para o (Paulo) Furtado é a 5ª
banda sonora comigo, mas o Furtado e a Rita já tinham feito a "Estrada de
Palha”.
A parceria acabou por ter um grande sucesso, refletido nos prémios
ganhos pelos músicos e também nos cine-concertos que encheram por todo o país e
até lá fora. Parece que este conceito, que junta música ao vivo à exibição do
filme, é para manter com Ornamento e Crime: "A ideia é os cine-concertos
acontecerem mais perto da estreia comercial do filme, que está prevista para
Maio. Da última vez fizemos em Portugal cerca de 13 concertos e mais 3 ou 4
fora do país. Desta vez, planeamos fazer menos, dependendo da disponibilidade
de ambos, pois estão a gravar discos novos e têm os seus próprios compromissos
e agendas. Mas a ideia é fazermos pelo menos uns quatro em Portugal, em
Guimarães, Porto, Coimbra e Lisboa”.
Para Rodrigo Areias, esta é uma forma de
dar mais ao espetador que assim consegue ter "espetáculos irrepetíveis, que é
um bocadinho aquilo que o cinema não consegue proporcionar”. A resposta do
público, foi também positiva: "Os cine-concertos estavam de tal forma esgotados
que tivemos mais espetadores em cine-concertos do que em sala comercial”. Um
sucesso para repetir.
Ornamento e Crime será
exibido no próximo dia 11 de dezembro no auditório da Biblioteca Municipal da
Feira. O filme integra a competição de longas-metragens do Festival de Cinema
Luso Brasileiro que se realiza de 6 a 13 de dezembro de 2015 em Santa Maria da
Feira.
Rodrigo
Areias licenciou-se em Som e Imagem no Porto, especializou-se em realização na
Tisch School of Arts na Universidade de Nova Iorque e integrou programa de
produção Eurodoc. Ao longo da sua carreira, desenvolveu trabalhos variados,
passando pelo cinema de autor em ficção e documentário, trabalhos em domínios
de video-arte e vídeo clips (The Legendary Tiger Man, Wray Gunn, Mão Morta,
Sean Riley, D3o, etc.).
Começou a sua carreira como produtor em 2001, tendo
produzido e co-produzido mais de 70 curtas, longas, vídeos e documentários.
Produziu autores de renome como Edgar Pêra, João Canijo e F. J. Ossang, bem
como jovens talentos como André Gil Mata, João Rodrigues e Jorge Quintela.
Trabalhou também com produções de outros países, do Brasil à Finlândia, passando
por Reino Unido, França, e Alemanha.
Como realizador, criou vários filmes.
Esteve representado em mais de 50 festivais internacionais com a longa-metragem
Tebas e com a curta-metragem Corrente, filmes que recolheram 10 galardões. A
sua segunda longa-metragem estreou em Competição Oficial no Festival
Internacional de Karlovy Vary e foi galardoada com uma Mensão Especial.
Rodrigo Areias foi também responsável pela produção de cinema de Guimarães
2012 Capital Europeia da Cultura.